Os documentos vazados pela organização Wikileaks envolvem inúmeros problemas da política internacional, mas causam mais dificuldades mesmo à diplomacia norte-americana. Esses documentos seriam mantidos em sigilo meio século. Que transtorno traria para o Brasil se daqui a 50 anos soubessem que o Ministro da Defesa revelou aos americanos a existência de um tumor no nariz de Evo Morales?
Ontem, ao falar dos vazamentos, afirmei que o fundador do site Wikileaks, Julian Assange (foto), vai enfrentar sérias consequências. Ele já vivia um pouco como foragido, dormindo em lugares diferentes, evitando usar cartão de crédito e celulares. Algumas autoridades, sem revelar o nome é claro, disseram aos jornais que ele usava métodos heterodoxos e seria combatido da mesma forma.
Lula afirmou, ontem, no Maranhão, que os documentos não são importantes. Pode ser que a troca de mensagens rotineiras desapareça na poeira da história. No entanto, há para mim, algumas revelações que merecem ser destacadas. A principal delas refere-se ao problema pontual na Coréia do Norte. A China aparece nos documentos como uma aliada constrangida pela ação dos norte-coreanos, que se comportam “como crianças mimadas”. Mas a China admite a reunificação sob a liderança da Coréia do Sul e isto é, realmente, uma novidade para quem, como eu, apenas lê jornais e revistas e não conversa com diplomatas chineses.
Outro aspecto importante diz respeito à guerra do Afeganistão. O conjunto de críticas ao Paquistão e a desconfiança em relação aos seus militares são temas bastante mencionados aqui e ali. Mas o conjunto de mensagens indica como é precária a relação dos EUA com o Paquistão.
O fato de que países árabes pediam uma investida contra o Irã, para cortar a cabeça da serpente, também é significativo. Pelo menos, o Brasil vai meditar sobre a simpatia que revelou em relação a Ahmadinejad. Apesar de sua posição anti-Israel, o Irã é detestado por muitos líderes.
Restam as fofocas nacionais. A maioria delas focaliza o Ministro Nelson Jobim, apresentado como um líder confiável pelos norte-americanos. Como os mesmos telegramas indicam um forte sentimento antiamericano no governo brasileiro, o vazamento deve ter trazido algum transtorno no momento de montar o ministério.
Lula já saiu em defesa de Jobim, afirmando que não acredita que tenha dito o que os americanos lhe atribuem, sobretudo a confissão de que Samuel Pinheiro Guimarães odeia os EUA.
Por aqui, certamente, a grande onda do Wikileaks tem tudo para se transformar numa marola. O grande problema também é que jamais se imagina que uma conversa com um embaixador estrangeiro seja anunciada na imprensa. E o pior é que muitos deles nem dominam razoavelmente o idioma dos países onde servem. Um perigo. Mas um perigo relativo porque, na verdade, a julgar, pelo que foi lido não há nenhuma grande invenção em todo esse material.
Desculpem o texto longo, mas, dessa vez, o Wikileaks produziu um vazamento caudaloso.



3 Comments
[…] This post was mentioned on Twitter by Ronald S Stresser Jr, Fernando Gabeira. Fernando Gabeira said: Blog do Gabeira: vazando por todos os lados http://bit.ly/frLh2O […]
Numa de suas entrevistas , o dr. Gaiarsa disse que a guerra já não é mais de armas e músculos. É cerebral e que os hackers a fariam.
Noutro dia a TV mostrava o que o Exército , a Marinha e a Aeronáutica estavam fazendo para se DEFENDEREM dos Hackers.
Os hackers são atraentes pelo brilho de sua inteligência, mas eles podem explodir uma hidroelétrica, por exemplo.
Um virus invadiu meu endereço eletrônico. NÃO É FÁCIL AGUENTAR.
Gostaria de que esta idéia vazasse para as autoridades do Rio de Janeiro:
Fazer um ENCONTRO INTERNACIONAL, no Rio de Janeiro , convidando os países que legalizarm a Maconha neste Planeta, para contarem a experiência deles, e para que reflitamos com eles sobre legalização, neste momento de trégua no Rio.
O historiador Sergio Buarque de Holanda disse em Raízes. que existe trégua. Pedir paz é pedir demais. Foi o que eu entendi.