É uma vizinha que não se pode ignorar, como muitos que morrem na metrópole sem que o morador ao lado perceba. É uma extensa vizinha, com que fazemos 2.199 quilômetros de fronteira, além de ser grande produtora de petróleo. Nas suas últimas crises, exportou mais de 500 mil refugiados para o Brasil num espaço de dez anos.
Acompanhei esse movimento de fuga em Pacaraima, Roraima. Ainda sigo a vida do país, por meio da imprensa de lá. Muita coisa acontecendo, principalmente as tropas americanas no Caribe, bem perto da Venezuela. São navios de guerra, 10 mil soldados, helicópteros, aviões F35 e até um submarino.
Isso significa que os Estados Unidos invadirão? Não creio. Para invadir com alguma chance de êxito, precisariam de 250 mil soldados. E seria uma guerra longa. Todo esse movimento me parece um esforço para desestabilizar Maduro. Isso não exclui uma ou outra ação isolada.
No momento, os americanos explodem balsas afirmando que pertencem ao tráfico de drogas. Pessoas morrem, as balsas são incendiadas, e não há como saber a verdade.
Foi fixada uma recompensa de US$ 50 milhões pela cabeça de Maduro, acusado de dirigir o Cartel de Los Soles. Isso aumenta a paranoia do ditador, golpeado politicamente pela concessão do Prêmio Nobel da Paz à sua grande oponente, María Corina Machado.
No fim do mês, nos Estados Unidos, haverá o depoimento de um general, Hugo Carvajal, que entregará documentos sobre as operações financeiras do chavismo. Mais escândalos, envolvendo também outros países da América do Sul.
Trump autorizou a CIA a realizar operações na Venezuela. Outro sinal importante. Agências de espionagem não anunciam suas ações, pois, no mínimo, as tornam mais inseguras.
Aparecem no horizonte possibilidades de crises, escaramuças, episódios destinados a tornar a vida de Maduro insuportável e forçá-lo ao exílio na Turquia, para onde suspeita-se que mandou parte de sua fortuna.
Qual o papel do Brasil nisso tudo? Nós nos preparamos para evitar uma invasão da Guiana, atingindo nosso território. Maduro queria anexar Essequibo. Temos tropas e equipamentos em Pacaraima e também em Bonfim, fronteira com a Guiana.
Não nos preparamos para esse conflito de agora. Brasil, Colômbia e México tentaram ajudar Maduro pedindo as provas de que ele venceu as eleições. Ele não as deu. As relações estão mais frias. Mas o Brasil defende a autodeterminação e condena a interferência externa.
É uma posição difícil porque Maduro não respeitou a vontade popular nas eleições. Mas a verdade é que Saddam Hussein também era um ditador sanguinário, nem por isso a invasão do Iraque deixou de ser um fracasso.
Defender a não interferência e, ao mesmo tempo, distanciar-se de Maduro pode ser um caminho. Na verdade, Gustavo Petro parece ter escolhido esse tom. Tanto a Colômbia quanto o Brasil, na verdade, precisam ficar muito atentos porque dificilmente a crise na Venezuela não atravessará as fronteiras.
No nosso caso, já temos muitos refugiados. Os ianomâmis vivem no Brasil e na Venezuela e às vezes andam quilômetros para ter ajuda médica do lado de cá. O garimpo na Venezuela é controlado por generais corruptos que pouco se importam com o meio ambiente. Eles exportam poluição.
Seria bom para aquela região amazônica que o ditador caísse de maduro, a partir da pressão interna.