Quem vê a tragédia do Morro do Bumba concentra-se na imagem clássica da massa escura de terra e lixo ser removida pelas máquinas. Mas há um verdadeiro centro de imprensa na entrada do Morro, com várias equipes trabalhando, caminhões gerando imagens, enfim, o grande aparato da imprensa.
Encontrei apenas duas ou três pessoas à espera de seus parentes, possivelmente soterradas. Uma delas, um senhor de barba branca, que veio de São Gonçalo, me comoveu. O irmão e dois sobrinhos provavelmente estão embaixo da massa escura de chorume e terra, cheirando a gás metano. Ao mesmo tempo em que esperava uma noticia trágica, comentava comigo o problema de seus parentes que já morreram. Estão enterrados no Cemitério São Miguel, em São Gonçalo. Na verdade, nem estão enterrados propriamente: foram engavetados. Mas o Cemitério está se desfazendo e ele não consegue mais encontrar as gavetas de seus parentes, muito menos suportar o cheiro do lugar.
Tentei algumas ligações com a prefeitura para ver o que é possível fazer pelo cemitério, reconhecendo, que, neste momento, mortos antigos não são prioridade. Mas, agora, quando alguns afirmam que os moradores desses lugares são irresponsáveis, confesso que seria importante considerar um pouco mais o peso dos políticos nesse processo macabro.
O Morro do Bumba foi urbanizado. Uma caixa dàgua desceu de helicóptero, no governo Brizola. Depois disso vieram luz, creches e até o IPTU para ser pago mensalmente. Na verdade, o destino do Bumba foi o destino de todas as favelas, começar desordenamente e ser melhorada aos poucos. A montanha era de lixo que se decompõe em chorume que se volatiza em metano, e a bomba, mais cedo ou mais tarde, explodiria.
Será que isto foi um marco ou se alguém ocupar as margens de vulcão teremos políticos propondo urbanização da área? Agora apareceu a solução mágica: remover. Mas para onde, com que casas, que saneamento, que transporte? Políticas aparecem, com nomes pomposos, como PAC, Minha Casa Minha Vida. Mas na hora do vamos ver…
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