As chuvas que deixaram um rastro de morte em Petrópolis e na Baixada reacenderam os velhos debates sobre as áreas de risco.
Dois membros da Defesa Civil morreram tentando retirar moradores que resistiam à retirada naquele momento de perigo.
Em Roma, a presidente Dilma Rousseff afirmou que era preciso tomar medidas mais drásticas para retirar as pessoas das áreas de risco.
Mas sair para onde, se em Petrópolis não foi construída nenhuma casa depois da tragédia de 2011 que atingiu duramente o Vale do Cuiabá.
Um dos argumentos importantes para enfraquecer a resistência do morador é a confiança de que não será desemparado e esquecido.
Mas é assim que sentem as vitimas das chuvas, sobretudo na serra, onde caíram dois prefeitos, Teresópolis e Friburgo, acusados de desvio de verbas de socorro.
O caso mais dramático está em Niterói. O Morro do Bumba era uma ocupação extremamente arriscada e acabou vivendo uma tragédia em 2011.
Os desabrigados teriam a chance de ocupar nova casa em julho de 2013. Mas os 11 prédios construídos, que consumiram R$27 milhões, estão condenados antes da inauguração.
As rachaduras são visíveis e nos dão uma sensação de material barato e a certeza de que não houve competência do planejamento do novo conjunto residencial.
Se olhamos sob o ângulo de um morador do Morro do Bumba a vida é muito áspera. Primeiro perdem tudo, depois vão morar dois anos num batalhão da policia e, finalmente, escapam das armadilhas que iriam cair nas suas cabeças.
Isto nos dá uma ideia de como é difícil tomar a decisão de sair de casa, mesmo sabendo dos perigos que a chuva traz.
A maioria resiste à mudança, com medo de enfrentar essa via crucis.
Assim como a epidemia de dengue que atinge 38 por cento dos municípios do Rio as chuvas nos castigaram mais uma vez.
O único consolo vem da própria natureza. As águas de março fecharam o verão. Esperamos temporais mais brandos e um pouco de frio para espantar o mosquito.
O governo não conseguiu fazer obra de contenções na maioria das encostas, não construiu casas populares.
Medida realmente drástica é fazer funcionar as medidas de socorro, reduzir a corrupção deixar que o espírito dos japoneses baixem sobre nós, ainda que com sotaque nacional.
Um orgulho de muitos os países é reconstruir áreas atingidas por desastre. Aproveitam até para melhorar o que existia antes.
Aqui somos obrigados a contar os mortos. E repetir o choro oficial, as promessas e as mesmas criticas do ano anterior. É um jogo sinistro.