O Globo inicia hoje uma série de reportagens sobre saúde pública no Rio. A primeira constatação: oito pessoas morrem diariamente à espera de uma CTI. Segundo os cálculos do jornal, 776 pessoas morreram nessa espera dramática, nos últimos três meses. Isto significa em termos aritméticos, 8,6 casos por dia.
Durante a campanha eleitoral, tentamos mostrar que a situação era grave. Não conseguimos grande audiência. Mas isso não importa: a tomada de consciência, ainda que tardia, pode nos levar a reformas indispensáveis aos setores da população que não tem recursos para hospitais particulares
O senador Edward Kennedy confessa na sua biografia, “True Compass”, que a saúde sempre foi o grande tema na sua vida política. Obama o homenageou quando concluiu a reforma. No Brasil, há alguns políticos que trabalham com o tema, inclusive uma ampla Frente Parlamentar da Saúde, cujo grande objetivo agora é regulamentar a emenda 29 para que se obtenham mais recursos ao setor.
O que está acontecendo no Rio merecia um exame de deputados e vereadores e, no entanto, eles parecem viver em Marte. O governo afirma que pretende solucionar o problema em 2011, mas era preciso atenuar agora essa perda de oito pessoas por dia.
Existem leitos particulares em CTI. A reportagem afirma que os hospitais não as alugam porque o governo acha o preço caro. Minha experiência no contato com os dois lados, revela que o problema não é o preço mas a falta de pagamento.
Felizmente uma série de reportagens vai mostrar toda a deficiência do setor, algo que tentamos exibir na campanha de tevê, focalizando a falta de neurocirurgiões nos hospitais ao longo da Avenida Brasil ou a falta de ortopodistas e pediatras nas UPAs.
Assim como o “Tropa de Elite 2” mostrou que havia relações do governo com as milícias, agora ficamos sabendo que a saúde pública não vai bem no Rio. Tudo depois das eleições, exatamente como no plano federal.
Cabral e Dilma andavam da mãos dadas na campanha. Agora o Rio aciona a União para não perder as participações especiais no petróleo. Não confundir com os royalties. As participações especiais ,às vezes, rendem mais do os próprios royalties. Com a mudança de modelo, de concessões para partilha, o Rio perderá bilhões de dólares.
Nem tudo aparece antes das eleições (CPMF, trem bala, banco Panamericano) porque os governos tomam precauções. E, como no caso do Rio, são ajudados pela Justiça Eleitoral, que pune revelações verdadeiras, sob o argumento de podem confundir o eleitorado.
Quando se fez a primeira luta pela liberdade de expressão, o argumento, pelo início do século XVII, ainda é válido para hoje, no inicio do século XXI: as pessoas são racionais, portanto são capazes de julgar por si próprias o conteúdo de uma notícia.
Um dos problema, no caso da saúde pública, é que grande parte dos potenciais interessados já migrou para planos de saúde particulares e perdeu o interesse pelo tema.
Edward Kennedy freqüentou hospitais porque sofreu acidentes mas também porque sua família esteve envolvida em muitas tragédias. Mesmo aqueles que não dependem da saúde pública, como os políticos fluminenses, deveriam se solidarizar com os que precisam. É um momento de vulnerabilidade, até de desespero, diante de um sistema que nem sempre é humano.
É indecente aceitar oito mortes por dia e apontar uma saída para o ano que vem. Algo tem ser feito agora. A saída emergencial é usar a rede particular, pagando modestamente, mas pagando em dia. Talvez interesse ao governo, num momento como esse, que as crises da saúde atinjam dimensões dramáticas. Isso fortalece seu argumento pela volta da CPMF. Esta contribuição existiu durante tantos anos e nem por isso as pessoas deixaram de morrer.
No Rio, as coisas são difíceis. A crise no sistema de saúde é profunda porque não há vínculos entre governo e funcionários: eles se detestam. São difíceis porque denunciamos problemas, a imprensa não os reproduz adequadamente, para proteger o governo. E quando a imprensa resolve denunciá-los, os políticos já não demonstram interesse, porque, afinal, as eleições já acabaram.
7 Comments
Eu, como funcionário público da saúde, tanto a nivel municipal quanto estadual, venho divulgando os desmandos da saúde nesse governo há muito tempo. A cada dia mais as coisas acontecem de forma a prejudicar a população para a realização de interesses financeiros maiores.
No fundo, o que vemos são pessoas hipócritas ganhando muito dinheiro com a exploração da saúde. Uma máfia que descobriu um filão incrível e inesgotável, difícil de controlar, e de onde os desvios de verba são praticamente imperceptíveis ao grande público…
Para a população, quando há falta de médicos os culpados não são os governantes! São os próprios médicos.
Quando as pessoas morrem por falta de material, medicamentos, equipamentos, leitos de CTI, neurocirurgiões, pediatras, UTI Pediátrica e Neonatal, ou mesmo na fila aguardando atendimento, ninguém lembra que o governador anunciou ter R$ 10 bilhões em caixa.
Nós, médicos do estado, estamos com o salário congelado desde 1994. Ganhamos apenas gratificações que elevam o salário de R$ 166,40 pra cerca de R$ 1.500,00.
Pela justiça, o governador deve R$ 200.000,00 pra cada um dos 25.000 médicos, mas nós sabemos que ele não vai pagar! Se pagasse, ainda sobraria dinheiro pra reabrir os hospitais fechados e ainda abrir mais alguns.
O estado poderia facilmente resolver o problema da saúde, se não fosse tão importante pra “eles” arrumar mais uma desculpa pra ressucitar a CPMF. Afinal, Cabral faz parte da base governista…
Chega de mortes, Cabral! Vamos ser sérios e honestos!
Precisamos mudar esta perspectiva sombria e agir!
[…] This post was mentioned on Twitter by Tatiana Ujacow, Erik José Steger, Carla Vila Nova, Fernando Gabeira, Fernando Gabeira and others. Fernando Gabeira said: Blog do Gabeira: saúde, ainda que tardia http://bit.ly/b7NKVz […]
é foda!!!
[…] semana li um post no Blog do Fernando Gabeira falando sobre a saúde no estado e na cidade do Rio de Janeiro, que atualmente vivem sob o […]
Sou funcionario do Hospital Estadual Pedro II em Santa Cruz RJ e venho aqui pedir sua ajuda , o senhor em sua campanha eleitoral esteve conosco e pode ver pessoalmente todos os desmandos e humilhações que estamos sofrendo c/ este governo.
Agora após um incêndio q não foi bem explicado tivemos a unidade fechada e rapidamente municipalizada, nós funcionarios administrativos fomos abandonados e estamos sem ter sequer um lugar p/ trabalhar. Não há vagas nas demais unidades p/ administrativos ( pois todas as vagas estão preenchidas por funcionarios terceirizados)
Por favor não nos abandone tbm!!!
Os politicos deveriam usar hospitais publcos.
Cara, eh covardia submeter pessoas em necessidades extremas.
Como pode alguem ganhar para trabalhar pelo bem estar da populaçao e em troca disto, fazer esta maudade?
Eles os deputados e vereadores mais preocupados em disser que nada sabem, principalmente sobre a implosão do hospital do fundão. A maioria evita falar sobre o problema afinal tem plano de saúde. A situação dos hospitais obriga a população a ter plano de saúde é a privatização da saúde, bastava 0,5% das nossas reservas para resolver todos os problemas da saúde , agora tudo serve para trazer de volta a CPMF