Carros queimados, onda de arrastão, uma cabeça cortada na rua: indícios de que a segurança pública no Rio enfrenta um novo desafio e o governo, como sempre, conta com uma certa apatia política para se fingir de morto.
Uma das principais características desse novo momento é o componente terrorista. Tanto os carros incendiados, como, principalmente, uma cabeça cortada, são mensagens de terror. Muitos vão dizer: afinal era a cabeça de um traficante chamado Parazão, por que se preocupar com isto?
Acontece que conheci muitos relatos de cabeças cortadas no Haiti e elas têm sempre o objetivo de aterrorizar. Num momento determinado, apareciam na porta de escritores, políticos. Não é o caso no Brasil. Mas aqui também se queria intimidar, de forma mais ampla, com a repercussão na imprensa. Se o governo não vivesse também essa letargia política, iria tratar esses novos casos, sobretudo o da cabeça cortada, como um ato de terrorismo.
Perceber que o tráfico está usando táticas de guerrilha e usando o terror como forma de luta, significa modificar suas próprias táticas, usar inteligência, antecipação. Mas sobretudo pedir ajuda. O Brasil não tem uma sofisticada política contra o terrorismo mas é consenso de que é também uma questão nacional. Por que não articular com os órgãos federais?
As UPPS tiveram êxito, não questionamos este aspecto. Mas toda política bem sucedida ou não costuma implicar em efeitos colaterais. Isto é válido também para a atividade manual e cientifica dos seres humanos. Daí a presença constante na literatura do mito de Pandora, a deusa da invenção.
Pandora foi enviada a terra por Zeus, para punir a transgressão de Prometeu. Pandora ao mesmo tempo em que inspira grandes talentos, pode produzir novos fenômenos. Daí a expressão, Caixa de Pandora, que se refere aos efeitos colaterais da invenção humana que, às vezes, espalham dores e medos.
As UPPs são uma tática correta mas a cabeça cortada saltou da Caixa de Pandora. Daí a necessidade de, pelo menos, reconhecer um novo momento. Sem isso, fica no ar apenas o terror.
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Caro Gabeira, eu sou carioca, hj moro em Recife. Morava no Posto Seis, Copa e me recordo, no final dos anos 80, de um episódio com a cabeça cortada de traficante, acho que do Pavãozinho, ali pela região. Tenho muitas saudades do Rio, mas é um desalento ver que passado tanto tempo, a população continua acuada por conta da criminalidade.