O Ministro Celso Amorim disse que o grande desafio externo de Dilma Roussef é o de levar o Haiti a superar suas grandes dificuldades econômicas e sociais. Sei que esse tema não é dos mais lidos, mas como fui duas vezes lá , gostaria de simplificar minha posição.
Fui contra a presença de tropas brasileiras no Haiti por uma questão histórica. Franceses e americanos ocuparam aquele país e nunca resolveram o problema.
Meu argumento: precisamos entender a razão desse fracasso, para não repeti-lo. Logo nós que temos menos recursos e estamos mais distantes de um ponto de vista de interesse econômico. A França colonizou o Haiti; os Estados Unidos são vizinhos.
Ao visitar o pais duas vezes, compreendi a importância do papel brasileiro, mudei minha posição e passei a defender o que, no meu entender, equivocadamente criticara.
Depois disso, veio o terremoto. Ontem, um diplomata afirmava que a reconstrução do Haiti levará duas décadas. Hoje, o furacão Thomas provoca inundações e mais sofrimentos no Haiti.
Como Dilma levará a cabo essa missão? O ex-presidente Clinton tem comandado algumas missões de industriais a Porto Príncipe, tentando estabelecer as bases de uma reconstrução sustentável. Digo sustentável economicamente, pois o Haiti só tem um pequeno parque nacional, e, ao contrário da Republica Dominicana, está exposto à natureza de forma dramaticamente vulnerável.
Como sera o esforço brasileiro no Haiti? Como pode ser articulado com o de outros países, principalmente EUA, interessados numa saida estável? Quanto tempo estamos dispostos a permanecer? Que volume de recursos dispomos para a empreitada?
Gostaria de ouvir o novo governo sobre tudo isso. Mas não serei mais deputado. Se a principal tarefa externa de Dilma é recuperar o Haiti, seria importante nos dizer como fará isso. Se a proposta for razoável, continuarei apoiando nossa presença; caso contrário, seria interessante planejar uma saída…
Recomendo a leitura do livro “Os Comediantes” de Graham Green. Na década de 50, falava de estradas construídas por ocupantes, no caso os EUA, que estavam destruídas. O relatório de Régis Debray sobre o Haiti também menciona a dificuldade que os franceses sempre tiveram em construir uma infraestrutura durável. O Haiti tem sido um cemitério de boas intenções, embora ainda seja, através de multiplicidade de ONGs, o paraíso das boas intenções.
4 Comments
[…] This post was mentioned on Twitter by Fabiane Torres and Gilberto Feltrim, Fernando Gabeira. Fernando Gabeira said: Blog do Gabeira: Haiti e reconstrução http://bit.ly/b7C8IY […]
Como ressaltou Gabeira, esse não é um tema muito discutido, mas deveria ser. A presença brasileira no Haiti vai além de objetivos econômicos – pensemos um pouco em como as Forças Armadas colhem os frutos dessa presença internamente, como instituição.
É preciso diferenciar também uma ocupação francesa e americana da atual, sob tutela da ONU. É completamente diferente uma coisa da outra. Além disso, não é a Dilma que decide sobre como será a reconstrução do Haiti, é a ONU, pois as tropas brasileiras estão subordinadas à Organização. Mas também quero muito saber como será a política externa do Brasil em relação ao Haiti – isso sim cabe ao novo governo decidir.
EXISTEM BRASILEIROS NO INTERIOR DO NOSSO PAIS ,QUE ESTÃO VIVENDO EM CONDIÇÕES SUBUMANAS MAS NÃO APARECEM NA MÍDIA, PRECISAMOS MUDAR NOSSAS ATITUDES E TOMAR CIÊNCIA DE SUA EXISTÊNCIA PRINCIPALMENTE NO NORTE E NORDESTE DO BRASIL QUE SÃO EM GRANDE NÚMERO.
Pois é, as mudanças possíveis pautadas em uma vivência que comportam uma visão de ajuda humanitária devem sempre estar pautadas pela viabilidade com estudo de estartégia contando, claro, com as possíveis lógicas ambientais.