Desde ontem, Dilma é a nova presidente do Brasil. Como eleitor de Marina no primeiro turno e de Serra, no segundo, desejo aos vencedores um bom governo, pois de sua competência e correção dependerá a sorte dos brasileiros nos próximos quatro anos.
A única notícia que existe é esta: Dilma venceu. As outras são mais ou menos previsíveis. Um novo presidente diz sempre que vai governar para todos os brasileiros e estende a mão aos adversários; todo adversário derrotado deseja boa sorte e promete uma oposição vigilante, porém racional e desapaixonada.
Estamos ainda no terreno das formalidades pós eleitorais. Embora não considere a pesquisa como um único parâmetro, era possível ver nas ruas o potencial da vitória de Dilma pela adesão dos setores mais pobres.
Aqui em casa, de vez em quando entra a voz de um pastor que faz preleções no Morro do Cantagalo: vamos votar amanhã, sabendo que o PAC é importante para nós, não preciso dizer mais nada – afirmava ele através de um potente sistema de som.
Há dois caminhos nos comentários de hoje: discutir os solavancos da campanha ou especular sobre o futuro governo Dilma. Ambos os esforços são válidos, embora não sejam o centro de minha preocupação.
Agora é preciso antes de tudo redefinir a vida: escrever um livro, realizar estudos de política sobre temas ainda ignorados no Brasil , produzir alguns textos jornalísticos, estimular novas frentes de luta, como a defesa do oceano, e sobretudo, estar aberto para o que acontecer no Brasil e fora dele.
“Keep wallking”, diz a propaganda. E creio que é uma frase importante. Faço oposição ao governo e creio que ela tem uma grande tarefa democrática. Nessa campanha, entretanto, vi como se embaralharam os temas e como se voltou contra o governo aquilo que sempre foi um grande obstáculo para mim: o fundamentalismo religioso.
Milhões de panfletos negativos sempre foram feitos contra mim, em campanhas majoritárias. Em 2008, os adversários, a julgar pelo relato dos próprios adversários, percorreram igrejas e templos para atemorizar os fiéis.
Daqui para frente, será preciso desenhar com nitidez uma política de oposição que denuncie o aparelhamento do estado, a falta de sustentabilidade ambiental nas decisões econômicas, a própria corrupção e a propaganda vazia sobre feitos inacabados. Mas sem perder o contato com os avanços em outras áreas, sem hesitar em propor políticas sociais avançadas.
Vai ser preciso uma longa discussão sobre o que é oposição a um governo com apoio popular, sobre o que é avançar em relação a esse longo domínio do PT e seus aliados. Costumam chamar isto de frente de esquerda. Mas. para mim, é claro que ser de esquerda ou de direita não foi jamais a verdadeira clivagem dentro do governo. A verdadeira linha divisória é esta: quem está contra, quem está a favor.
Estamos na primeira manhã, do primeiro dia. Esses temas voltarão e creio que nosso novo site estará no ar esta semana. Aí sim, começaremos já a experimentar os primeiros passos de um novo caminho Quanto às outras intervenções, na imprensa ou na literatura, assim como ensaios políticos, tudo isso estará presente também no site que, no ano que vem, vai ser uma espécie de convergência de todo o trabalho.
14 Comments
“Vai ser preciso uma longa discussão sobre o que é oposição a um governo com apoio popular, sobre o que é avançar em relação a esse longo domínio do PT e seus aliados.”
Isso!
Disse tudo!
Como podemos fazer oposiçao a um governo com tanto apelo popular? Ainda não sei, mas serei essa oposiçao.
[…] This post was mentioned on Twitter by Carissa Albani, Stefani Contini , Mi Vasconcelos, Dariana , Rafael Schuabb and others. Rafael Schuabb said: RT @gabeiracombr: Blog do Gabeira: Dilma, presidente http://bit.ly/clDqJJ […]
Gabeira, aqui no meu Estado – ES – as redes de TV falavam do PAC todos os dias, inclusive quando era pra reclamar de obras não feitas: “aguardem o PAC 2”. Infelizmente o voto na Dilma não foi somente dos pobres. Servidores públicos i(CEF, BB, Petrobrás, Universidades e Escolas Técnicas)foram cercados diariamente pelos boatos de privatização, sem perceber o ridículo de elegerem alguém olhando pro seu próprio umbigo, fechando os olhos pra péssima administração generalizada do setor público federal, pelo qual toda a nação é muito mal servida. Por fim, existem idéias fossilizadas no meio acadêmico, reproduzidas por aqueles que hj mal se sustentam da própria fama de intelectual. Esse Jurassic Park tem perpetuado o autoritarismo do séc. XX “para o bem”, isto é, para a implantação do projeto socialista. Por causa deles, temos que conviver com o discurso de apologia a Chávez, por exemplo. Uma coisa horrorosa, Gabeira. Tão horrorosa quanto a apologia a um governo militar.
boa sorte gabeira nessa nova caminhada! Eu acredito q um dia vc irá governar nossa cidade maravilhosa!
Confesso que temo pelo futuro do Brasil, Dilma não me passa confiança e nem competencia, mas acredtio que apesar de tudo nos próximos anos a politica tem de ficar melhor, começando por você Gabeira como candidato a prefeito do Rio em 2012, vamo que vamo que a onda verde não pode parar, a 2 anos atraz você perdeu por menos de 1%, não pode desistir Gabeira os Cariocas precisam de você !
Falta fazer oposição, Gabeira. Durante oito anos, Lula e o PT fizeram o que quiseram, sem que ninguém jamais lhes impusesse nenhum obstáculo. Vamos ver se agora, sem o falso Deus Lula no poder, a oposição desperta.
Livro novo a caminho!!!!! SHOOOOOOOW!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Abstenção de 21%
Muita força companheiro!
Estaremos sempre ao seu lado!!
Obrigado por todo o esforço, não foi em vão!!
Todos teremos que nos aventurarmos nas rede sociais. Fazer Política em rede. Ter a coragem de por nossos pensamentos, dúvidas e até as sempre perigosas certezas divulgadas nas redes.
Usar os dispostivos que a Internet a cada dia melhor disponibiliza. Vídeos, Audios, debates on line, Blogs. e até mesmo o já velho site pra informar e discutir. (chamo de velho porque o site tem CENTRO, enquanto que nas redes perdemos o controle de nossas posições numa velocidade nunca antes vivenciada).
Vou tentar discutir na Internet a chamada Reforma Política.
A existência mesmo dos Partidos Políticos está em cheque diante das novas forma de organização de vontades coletivas. Voto obrigatório?, E as Campanhas? Voto Distrital? Horário Eleitoral obrigatório e gratuito? Representações proporcionais?, Candidatos em Listas? e muitos outros aspectos relevantes neste tema crucial para a Democracia em nosso país.
A nossa Comunidade Ning chamada Voluntários poderia lançar este debate.
Texto lúcido e elegante!
Está na hora da oposição fazer oposição de verdade. Sei que é difícil, por causa da mentira que é: “Governo do povo” que o PT sempre quis passar, ganhando o apelo popular, mas não é impossível se formos vigilantes.
Tá na hora de fazer oposição sim, concordo com todo mundo que postou.
Porém tá na hora de repensar o que é oposição. Não devemos buscar simplesmente a “alternância de poder”, como disse José Serra, mas também a alternância de idéias. É necessário reeducar o eleitorado, para mostrar as deficiências no governo de situação, e não lutar pelo poder a qualquer custo, como foi visto no segundo turno dessas eleições. Ninguém merece uma oposição burra e sem visão, senão a de governar para o próprio umbigo. Oposição não é simplesmente ser do contra que nem um macaco amestrado: é ser o outro lado da balança que é necessária pra democracia funcionar.
Acredito que o PV tenha ganhado tantos votos nessa eleição devido a sintonia ideológica com o eleitorado, coisa que ficou faltando em outros partidos de oposição.
Gabeira,
Se me permite, gostaria de sugerir ampliação de sua pauta. O que precisamos é controle social sobre o Estado. Se possível, acesse a Lei de Responsabilidade Social que nós, do Fórum Brasil do Orçamento, elaboramos e que tramita na Câmara Federal (ingressamos pela CLP). Há várias iniciativas em discussão pela Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma Política Democrática. O jurista Fábio Konder Comparato sugere a criação de órgão central de planejamento, com participação da sociedade civil e semi-autônoma (ele se espelha no Banco Central) para que possamos garantir políticas de Estado e não de governo. Há muitas propostas em discussão. Sinto que é sua agenda e que em virtude dos embates partidários, você se distancia destas inovações. Fico realmente preocupado com seu envolvimento com esta articulação DEM-PSDB pelo que confronta com seu perfil. Acho que deveria ser mais independente e uma referência nestas mudanças mais ousadas, representando esta sociedade civil tão gelatinosa. Os partidos políticos são demasiadamente hierarquizados, sem raízes na sociedade civil. São a antítese das novidades, dos structural holes. Mesmo estando num partido, você poderia ir além deles. Como sempre fez em sua militância social.