As eleições no Brasil terminaram com uma vitória do governo, nos EUA como uma vitoria da oposição. É possível dizer que os republicanos jogaram mais duro do que a coligação oposicionista no Brasil. Muitos atribuem o relativo fracasso da oposição brasileira à sua moderação, argumentando que nos EUA, com movimentos como o Tea Party e radialistas agressivos, o caminho da vitória foi se abrindo.
Acontece que, na campanha, sobretudo na campanha do Rio, fizemos oposição firme mesmo contra a vontade daqueles que queriam debates só com propostas, como se estivéssemos numa eleição escandinava. Mesmo lá, de vez em quando, surgem discussões acaloradas. Era impossível enfrentar um governo que gastou tanto com publicidade, sem desmontar seus mitos, e, em seguida, apresentar propostas.
Mas ainda assim, considero difícil imaginar uma oposição do tipo da norte-americana no Brasil. Claro que já tivemos momentos radicais e líderes com imensa capacidade de duelar, como foi o caso de Carlos Lacerda. Mas uma das críticas que mais vi na imprensa, ao fim da cada debate, era isto: faltou proposta. Às vezes, o comentarista nem tinha acompanhado atentamente a discussão entre os candidatos. Mas é o tipo da frase que não compromete, que recompensa nossa preguiça em analisar detidamente.
Mas essa demanda de debate apenas em torno de propostas era também da sociedade. Muitas pessoas pediam que não se baixasse o nível da discussão, algumas chegavam a recomendar que os candidatos falassem diretamente para o público, ignorando ironias e agressões do adversário.
Existem dois fatores que devem ser levados em conta, embora não me sinta dono da verdade. O primeiro é que a liderança da oposição no Brasil é exercida por uma força mais branda que os republicanos; o segundo diz respeito a algumas diferenças culturais.
Se não as houvesse, o Brasil não teria como pilar de sua política externa a promoção da paz (digo em teoria, sem avaliar como cada presidente a aplicou) e os Estados Unidos não estariam quase que em guerra permanente para impor suas concepções de democracia a alguns países do mundo.
Provisoriamente, diria apenas isto, algo que posso rever nos próximos meses: a oposição no Brasil não pode ser tão hesitante como foram os tucanos, mas também corre o risco de se afastar de alguns setores do eleitorado se buscar uma fórmula semelhante àquela usada nas campanhas americanas.
O trabalho é muito duro. Se a oposição apenas bate, acaba fortalecendo o governo; se apenas apresenta proposta, perde a capacidade competitiva. Não se pode seguir nem o modelo escandinavo, nem o modelo americano. Será preciso encontrar o próprio tom.
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