A batalha da memória

Durante muito tempo, houve uma luta no Brasil para que se abrissem os arquivos do governo militar. Embora ainda falte muita coisa, o que se conseguiu foi reunido no Arquivo Nacional integrado num projeto chamado Memórias Reveladas.

Ontem, o historiador Carlos Fico, da URFJ, pediu demissão do cargo de diretor do projeto. Ele protesta contra a decisão do Arquivo Nacional de impedir o acesso de pesquisadores ao material.

O argumento utilizado pelas autoridades foi o de que houve busca indevida de dados para comprometer envolvidos na luta eleitoral. Dos envolvidos na luta eleitoral, a julgar pela imprensa, só Dilma era alvo dessa curiosidade. Aliás, a Folha de São Paulo entrou na justiça para acessar os processos de Dilma e até agora não conseguiu.

As eleições acabaram. Já era problemático proteger os arquivos durante aquele período pois não temos nada na legislação que tornem secretos durante o pleito documentos que são públicos ao longo do ano.

A demissão do historiador nos coloca numa encruzilhada. Durante anos, defendemos a abertura dos processos, que, de certa forma, valorizavam a luta  contra a ditadura. Quando governo sente-se, potencialmente, ameaçado pela abertura, baixa-se, de novo, o segredo.

É um impasse desnecessário; se for resolvido pela justiça, pode lançar duvidas sobre nossa maturidade política, pois a abertura dos arquivos oficialmente reconhecidos parecia expressar uma tranqüila conquista democrática