Parlamentares brasileiros, parabéns: vocês arrasaram. Numa só noite derrubaram os vetos de Lula ao projeto da devastação e demoliram o alicerce de nossa legislação ambiental.
Verdade é que foram cautelosos no timing de destruir as regras de licenciamento. Não foi durante a COP, para que os estrangeiros não vissem nosso atraso. Naturalmente, imaginam que as notícias não correm rápido, nem que temos concorrentes internacionais a nosso agronegócio. Daqui a pouco, poderíamos firmar o acordo entre Mercosul e União Europeia. A contribuição de vocês pode ser decisiva para o fracasso.
Vivemos semanas estranhas. Por delicadeza, veria nelas certo realismo fantástico dos trópicos. Mas seria comunicar uma aura romântica a algo que me parece pura degradação de nossa vida política.
Uma empresa conseguiu sonegar R$ 26 bilhões em impostos. Só agora nos damos conta de que um projeto para punir esses devedores contumazes dorme na gaveta de Hugo Motta. E dorme com uma classificação de urgência, algo contraditório com o sono profundo.
Da mesma forma, descobrimos que o Banco Master deu um rombo de R$ 12 bilhões. Todo mundo sabia, todo mundo desconfiava, mas nada foi feito. O dono do banco teve de passar alguns dias na cadeia, nada comparado, é claro, às longas penas de quem rouba um sabonete no supermercado.
Talvez a estranheza se aproxime mais do realismo fantástico no caso do general Augusto Heleno. Condenado, informou, ao ser preso, ter sido diagnosticado em 2018 com o mal de Alzheimer. Deve haver um engano, um lapso de memória.
De lá para hoje, passaram sete anos. Conheci Heleno no Haiti; mais tarde visitei os ianomâmis ao seu lado, quando era comandante na Amazônia. Não subestimo seu domínio de línguas estrangeiras, nem seu conhecimento de nosso país. Mas, sinceramente, se for verdade, em 2018, ano em que Bolsonaro foi eleito, Heleno não tinha condições de supervisionar a inteligência do país, muito menos a segurança do presidente. Teríamos vivido esta anomalia secreta: o chefe da inteligência nacional sofrendo de sérios problemas cognitivos.
Apesar de falar muito no avanço democrático que foi a condenação da trama do golpe, nosso sistema continua enfraquecendo. O caso da indicação de um novo ministro do STF é típico. Lula optou por escolher alguém de sua confiança máxima. Mas não é criticado pelo critério personalista. Ao contrário, Davi Alcolumbre quer indicar alguém de sua confiança. Quer disputar com Lula uma prerrogativa que pertence ao presidente. Diante disso, surgem várias rebeliões no Congresso, aprovando pautas-bomba destinadas a estourar o Orçamento.
A redemocratização viveu um sobressalto em 2018. Mas os avisos já haviam sido dados nas manifestações de 2013. Se não fizermos um esforço extraordinário para renovar o Congresso, a democracia no Brasil continuará empobrecendo. Pode não cair, mas ninguém vai querer mover uma palha para mantê-la de pé.
Estas semanas nos mostram discretamente o que 2013 revelou com o impacto do povo na rua. Ignorar pode nos custar muito caro.

