Na semana passada, voltei à Paquetá. Foi a segunda visita num curto espaço de tempo.
Dessa vez, voltei por causa da morte de um cavalo. O episódio colocou em xeque todo o transporte de charretes na Ilha.
De fato, foi um grande erro descuidar do cavalo a ponto de não ter sido possível salvá-lo.
Mas os 19 homens e mulheres que tocam as charretes não podem ser responsabilizados pela decadência da Ilha, causada por outros fatores.
O transporte de barcas pouco frequente, assim como a sujeira das praias contribuíram para afastar os turistas.
O dono de uma charrete gasta R$800 reais por mês para mantê-la. Quando os turistas escasseiam fica difícil tratar os cavalos de forma mais adequada.
As cocheiras construídas pelo poder público são um desastre técnico. A água não escorre e a urina dos cavalos fica empoçada. As baias estão semidestruídas e há buracos no teto, o que pode ser perigoso nas tempestades.
Minha outra visita a Paquetá foi para visitar as favelas da Ilha. São menos violentas do que as do Rio mas têm os mesmos problemas de infraestrutura, sobretudo água e esgoto.
A discussão sobre a continuidade das charretes deve prosseguir. Sem os cavalos, o transporte pode ser feito por bicicletas que funcionam como taxi.
O mais importante, entretanto, é decidir o que fazer com Paquetá. Não estamos jogando a toalha na luta para recuperar a ilha como atração turística?
Diante dos eventos internacionais e da necessidade do Rio de ampliar seu potencial turístico, jogar fora Paquetá como atraente ponto de visita é uma pena.
Como é uma pena não existir um projeto mais amplo e integrado para toda a Baia de Guanabara. Ha tantas coisas interessantes que poderiam ser melhor exploradas e, as vezes, nos comportamos como se estivéssemos resignados com a irrelevância turística da Baia.
Se vamos gastar dinheiro com os eventos, por que não reservar uma pequena parte para esses projetos que sobrevivem às Olímpiadas?
Turismo dá muito dinheiro. Paris e Barcelona sabem disso. Mas para que o processo aconteça em sua plenitude , é preciso investir e cuidar.
Nem sempre o investimento precisa ser do governo. Parcerias públicas-privadas poderiam ser uma alternativa.
Uma ilha como Paquetá é excelente para o turismo local, encanta os namorados com passeios românticos, e poderia ser muito bem aceita pelos estrangeiros.
Qual o problema de se estimular o turismo popular? E quem garante que os estrangeiros querem apenas programas mais caros?
O governo deveria pensar em Paquetá e jogar com as cartas na mesa. Se achar que acabou o potencial turístico da ilha, pelo menos dizer o que fazer com ela, sem uma de suas essenciais fontes de renda.
Não é possível fingir que não estamos vendo um pedaço tradicional do Rio morrer por omissão geral.
Artigo publicado no Jornal Metro em 15/04/2013


