Tantas vezes adiado, chegou o golpe inexorável: as perdas do Rio e outros estados produtores nos royalties do petróleo.
Os deputados e senadores majoritários viam nesta redistribuição não apenas mais dinheiro mas também mais votos nas eleições. Era difícil vencê-los, numericamente, e nossos argumentos não os abalavam.
Com esta votação, o Rio passa a viver uma situação singular. O governador Cabral suspendeu todos os pagamentos do governo, exceto o dos funcionários.
Um gesto dramático. Uma vez que a decisão parlamentar era esperada, já deveríamos ter previsto esta eventualidade.
Mas o gesto reforça o grau de injustiça dos outros estados da federação que fingem ingorar os enormes encargos sociais e ambientais que a exploração do petróleo impõe ao litoral fluminense.
Ainda esta semana ao visitar a Ilha Grande tomei contato com o crescimento de uma espécie exótica, o coral sol, que está reduzindo os mexilhões, entre outros estragos.
O coral sol veio de Fiji e do Equador agarrado em cascos de navios petroleiros. É um problema para todo o litoral brasileiro mas ataca o do Rio, em primeiro lugar.
Quem visita Macaé e vai à favela Nova Holanda pode perceber a tensão na busca por moradia, a chegada de milhares de pessoas que vem à procura de trabalho na industria do petróleo. E elas precisam de escolas, hospitais, segurança.
O aeroporto de Cabo Frio, um dos mais eficazes do pais, foi tomado por manifestantes que protestavam contra o corte dos royalties.
Seria necessário uma boa reflexão coletiva sobre a nova situação e como enfrentá-la.
O estado deve ter como objetivo estratégico recuperar os royalties necessários para seguir crescendo e atenuar o impacto da exploração de petróleo.
Mas nada impede também que se busquem todas as compensações, antes que seja reparada a injustiça de forma definitiva.
Dito assim em dois parágrafos parece simples. Mas alcançar uma unidade mais ampla, por cima das divergências políticas ou culturais, é o fator decisivo para enfrentar a complexidade do novo momento.
É preciso uma energia que não vem do petróleo, uma outra energia. Rio é um estado produtor de energia política.
Vamos contar com ela. A injustiça cometida pelos outros estados da federação nos dá uma causa em comum, independente de nossas brigas locais.
Aproveitar esta chance e reagir de forma inteligente e unitária pode, no mínimo, atenuar as nossas perdas.
Artigo publicado no Jornal Metro em 11/03/2013

