Depois das eleições, surgem sempre as medidas amargas: aumento do ônibus, luz e IPTU para citar apenas algumas. Isso é a prática rotineira da política convencional. É Maquiavel adaptado ao processo de escolha que se faz de quatro em quatro anos. Sua tese: o bem se faz aos poucos, o mal se faz de uma vez.
É tese comprovadamente vitoriosa. Os eleitores se irritam nos primeiros meses do mandato e, aos poucos, vão sendo conquistados num ritmo que se intensifica de novo em ano eleitoral.
De todas essas medidas amargas, incluo uma por minha conta: o aumento de gabarito dos prédios na Barra da Tijuca. Eles poderão ser de 27 andares. Qual o problema do aumento do gabarito? Parece ser o único instrumento para atrair as empreiteiras nas necessárias parcerias para Copa e Olimpíadas. Elas devem ganhar muito dinheiro com a elevação da altura dos prédios. O aumento de gabaritos feito sem o necessário rigor torna a cidade menos humana.
Uma das consequências é a perda do horizonte para muitos moradores. Célebre arquiteto dinamarquês, Jean Gehl defende que o arranha-céu seja construido no meio do quarteirão para roubar menos a visão dos outros moradores.
Pode parecer um luxo, mas o horizonte deveria ser democratizado ao máximo. Quem o teve um dia e o perdeu, sabe bastante sobre sua importância na nossa existência cotidiana.
Não creio que seja possível evitar o arranha-céu. Lamento que algumas cidades médias brasileiras se orgulhem tanto dos seus primeiros grandes prédios. Elas consideram o arranha-céu como um sintoma do progresso e sonham com eles. O que é possível aos governantes bem intencionados é regular o processo de crescimento, tornando-o mais humano e sustentável.
A ideia de aumentar o gabarito para estimular empreiteiras em outros projetos da Copa e Olimpíadas deve dar certo. Vereadores aprovam isso a toque de caixa, a julgar pela composição da Câmara. Mas são decisões pontuais, para resolver o problema do momento, que acabam se acumulando a ponto de tornar a cidade menos habitável no futuro.
Em Belo Horizonte, usou-se muito esta frase numa campanha popular: olhem bem as montanhas. Era um lamento diante da mineração que as transformava.
No Rio, temos mar e montanha. Muita coisa para ver. As empreiteiras têm o direito de construir prédios desfrutando dessa paisagem. Mas quem se interessa por aqueles que a perderão?
Tanto se fala em plano diretor, em pensar no futuro do Rio. Na primeira Copa do Mundo, as regras vão sendo desfeitas e tudo indica que o verdadeiro plano, aquele que realmente vigora, é o da especulação imobiliária.
A tranquilidade com que se vai dobrar o gabarito dos prédios na Barra mostra que não são apenas os vereadores que se conformam com a medida. Todos sabem quando uma cidade é agradável e humana. Poucos se interessam sobre como isso, na prática, é ameaçado pelas cegas leis do mercado.
Artigo publicado no Metro em 12/11/2012
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