A proposta do governo de realizar um plebiscito para a reforma política é uma tentativa de dar ao movimento das ruas um final empolgante como uma reunião de condomínio. É o sonho dos burocratas do PT. Mas será difícil colocá-lo em funcionamento.
No princípio, a palavra plebiscito seduz, como quase todas as medidas anunciadas, a maioria uma cortina de fumaça.
A ideia do plebiscito foi lançada para se tornar uma bomba de gás entediante que vai aos poucos dissipando todo mundo.
Lembro-me que participei de inúmeras discussões sobre reforma política e, no final, até nós estávamos um pouco casados do tema.
O ideal é apresentar os principais temas da reforma, votá-los sob vigilância da eleitores e submetê-lo a um referendo com uma simples pergunta.
O líder desse processo é Aloisio Mercadante que disse o seguinte: faremos apenas perguntas concretas.
Isso me abalou. Afinal é o Ministro da Educação e considera uma pergunta concreta ter o voto distrital puro ou voto distrital misto.
É um tipo de proposta feita para enganar os que a avaliam apressadamente.
O plebiscito pode parecer mais democrático mas não é essa a intenção. Continuamos com um problema: como os deputados vão votar o que a maioria da população espera?
A resposta para isso foi dada durante a semana. A pressão popular sobre pontos específicos faz o Congresso ceder.
É preciso ter muita clareza sobre quais os pontos que realmente respondem à crise desencadeada pela revolta popular e aqueles que são jogados na mesa para entorpecer o debate.
Qual reforma política partindo do PT vai ter dois pontos fundamentais: mais dinheiro para o PT e maior controle do processo político.
Não sou pessimista. A oposição se desgastou menos que o governo. Ela tem condições de criticar esse pacto nacional enganador e o truque do plebiscito.
Em primeiro lugar, precisa fortalecer sua agenda para um pacto: redução de ministérios, auditoria dos gastos na Copa e propostas menos bombásticas para educação e saúde.
Em segundo lugar, precisa fortalecer a alternativa do referendum, no qual a população aceita ou não a reforma aprovada no Parlamento.
Ficaremos com o poder de revogar o revogável, Mercadante, sem precisar revogar o irrevogável como você costuma fazer.
Precisamos de um itinerário para sair da crise imediata e levar o país até 2014, para que aí surjam também propostas mais consistentes de mudança.
O PT continuará tentando tirar vantagem da situação. Mas não há magia que ressuscite a imagem do país satisfeito com a economia e tolerante com a corrupção.
Havia uma pedra no meio do caminho.

