A derrocada do império de Eike Batista é um fato internacional. Mas terá grande repercussão no Rio de Janeiro, porque ele mora aqui, investe e ganha algum dinheiro aqui e também exercita a seu lado beneficente.
Houve um momento em que sempre que havia um grande problema público, as pessoas perguntavam: será que o Eike não poderia ajudar?
Ele se tornou um Papai Noel sofisticado, uma versão em HD, mais racional do Papai Noel de Quintino, que foi literalmente atropelado numa estrada fluminense.
Eike é muito amigo de Cabral e Paes. Emprestou aviões, frequentou solenidades e se tornou o grande parceiro bilionário da dupla de governantes.
Um de seus projetos beneficentes foi recuperar a Lagoa Rodrigo de Freitas. Não era um blefe. Diariamente, via-se o barquinho de limpeza e uma movimentação inédita na área.
O projeto desapareceu com o tempo, talvez por causa das próprias dificuldades financeiras do império.
Eike pegou a Marina da Glória e queria transformá-la, construindo lojas e transformando-a num espaço lucrativo.
Houve reação dos donos de barco e da própria comunidade e sua empresa abandonou o projeto.
A ideia de recuperar a Marina era articulada com a reconstrução do Hotel Glória, comprado por Eike. As obras ali começaram mas ainda parecem longe de ser concluídas.
Um dos episódios que nos deixaram bolados com Eike, com o governo e mesmo com a empresa da Globo que dirigiu a festa, foi a solenidade de escolha das chaves da Copa do Mundo.
Nosso benfeitor cobrou uma fortuna para ceder a Marina da Glória ao evento.
A empresa que o realizou cobrou R$240 pelo aluguel diário de cada cadeira, um preço que daria para comprá-la.
Cabral-Paes colocaram R$30 milhões no evento. Na época esperneei, dentro dos meus limites, escrevendo e pedindo a intervenção de quem tem poder para isso.
O que eram R$30 milhões gastos numa Copa que envolveria no mínimo R$30 bilhões?
Pouco gente se tocou diante daquilo. Eike-Cabral-Paes-Globo são um quarteto poderoso demais para que os questionamentos venham à luz.
A partir da escolha das chaves da Copa compreendi não que o evento iria mesmo drenar fortunas do dinheiro público.
Mas compreendi também que era necessário rever a fantasia do Papai Noel Eike.
Mais tarde, ainda junto com o amigo Cabral, Eike entra no consórcio do Maracanã, para administrar um estádio que só com a reforma custou R$1,1 bilhão.
Está para ser escrita a paixão de Eike pelo Rio. O porto de Açu, em São João da Barra, é uma obra grandiosa que vi de pé.
Mas ao documentar os custos sociais com as lagoas que se tornaram salgadas, a devastação da lavoura do abacaxi, relativizei a imponência de Açu.
Não existe almoço de graça, dizia o economista Milton Friedman. Com o tempo, vamos perceber algo mais: Papai Noel é apenas uma fantasia infantil.
Artigo publicano no jornal Metro em 08/07/2013

