O Rio faz aniversário e ganha um novo Museu de Arte, na região portuária. Mais um motivo para celebrar a cidade que vive uma de suas melhores fases, com possibilidade de ampliar sua importância internacional com os grandes eventos.
A polêmica política que envolve a cidade é o lançamento do Banco Imobiliário, parceria da Prefeitura com a fabricante de brinquedos Estrela.
Os opositores criticam o prefeito porque ele incluiu algumas de suas obras no jogo a ser distribuído entre as crianças. Vêem nisso uma propaganda política.
Não consigo ver nesse tema algo tão importante. Nesse aniversário da cidade, tão viva, bonita por natureza, minha pergunta é outra: será que um Banco Imobiliário é o jogo ideal para que as crianças conheçam e celebrem uma cidade?
Alem do grande problema da mobilidade urbana, o Rio cresce de forma irresistível no sentido da Barra enquanto bairros mais centrais, como São Cristovão poderiam ser objeto de um projeto especial de recuperação.
Deveríamos crescer para dentro, ao invés de crescer para fora. Mas o que determina o crescimento é o lucro e não um planejamento adequado.
Em muitos lugares do Rio, as pessoas lutam hoje para que as transformações na cidade não piore suas vidas. Em Ipanema, com a Praça Nossa Senhora da Paz, no Leme onde se planeja construir uma estação do bondinho do Pão de Açúcar, para dar dois exemplos mais recentes.
Na Providência há dúvidas sobre o teleférico, na vizinhanças do Maracanã inquietação quanto ao futuro de alguns pequenos negócios.
O caso mais doloroso é da Reserva de Marapendi. O prefeito concedeu um espaço para um campo de golfe e os vereadores resolveram abrir a reserva à especulação imobiliária.
A história de uma cidade pode ser contada por uma série de obras, monumentais como o Maracanã ou prosaicas como uma clinica de bairro.
Mas se acostumamos a ver a sucessão de obras sem questionar sua racionalidade e sem compreender os diversos fatores humanos que envolveram, vamos achar que o Rio cresce como um banco e veremos nos lucros seu motor legítimo.
Nesse em todos os aniversários, o Rio deveria refletir sobre sua relação com a indústria imobiliária. Cariocas ilustres como Millor Fernandes perceberam muito bem como o que chamamos a cara do Rio foi varias vezes desfigurada pela especulação.
Duvido se a expressão Banco Imobiliário possa dar uma ideia da riqueza real da cidade. Mas não creio também que um brinquedo infantil, nesse momento, possa ser decisivo para formar os vínculos da criança com a cidade.
Ela verá muitos aniversários, terá sua opinião sobre o Rio e, possivelmente, vai esquecer de todos nós ,inclusive do Eduardo Paes
Mas talvez ela não se livre no futuro dessa permanente tensão do jogo real: de um lado o avanço imobiliário, do outro o desejo de um planejamento racional e humano.
Artigo publicado no jornal Metro

