Agora é oficial: o governo decidiu retirar as 525 famílias alojadas no Jardim Botânico do Rio.
O governo apenas segue a orientação da justiça e encerra, pelo menos simbolicamente, uma longa discussão não apenas nos jornais mas entre membros do PT.
Apesar da pressão da comunidade científica e a importância crescente da integridade do Jardim Botânico, o governo resistia, influenciado pela posição do deputado Edson Santos entre outros.
O Jardim Botânico é um lugar frequentado por dois milhões de visitantes por ano e terá um papel decisivo na afirmação do potencial turístico no Rio, após os grandes eventos.
Não foi esse entretanto o argumento mais importante para retirar as 525 famílias mas sim as necessidades da pesquisa sobre a Mata Atlântica importantes na preservação futura desse ecossistema.
A decisão do governo demorou a chegar. A execução necessariamente vai demorar um pouco. As famílias serão cadastradas e as alternativas de residência serão discutidas uma a uma.
Uma das funcionárias do escritório montado para tratar do assunto previu que a fase de negociação comece dentro de um mês.
Tudo isso vai depender do ritmo de cadastramento, da disponibilidade das alternativas e da própria vontade dos moradores.
Existe ainda uma disposição de resistência. Mas agora que aconselhado pela justiça e pelo Tribunal de Contas o governo bate o martelo, seria mais prudente se dedicar à melhor negociação possível.
O Jardim Botânico é uma propriedade nacional com grande importância para estudiosos de todo o país. Por mais sensível que um governo seja aos ocupantes do lugar, não houve como escapar da decisão.
O ex-presidente do Jardim Botânico, Liszt Vieira, fez tudo para que o impasse fosse resolvido e acabou deixando o cargo.
Mas se o tivessem ouvido desde o princípio, a solução já estaria hoje numa fase mais concreta.
A mesma posição de retirada das famílias era defendida pela Associação dos Amigos do Jardim Botânico.
Começou uma nova fase. Ficarão apenas as 20 famílias na Vila Castorina. As outras 525 terão de sair e o ideal é que se faça um processo à altura do nível civilizatório de um dinâmico Jardim Botânico: cordial e eficaz.
A nova diretora do Jardim Botânico poderia explicar os planos de aproveitamento da nova área.
Seria importante também mostrar o que está em jogo com esse decisão do governo.
Resolvida esta questão, o Jardim Botânico tem tudo para ser uma grande atração cultural do Rio de Janeiro num momento em milhares de visitantes chegarão ao Rio.
Algumas emissoras internacionais já costumam usar o Jardim Botânico para o cenário de suas entrevistas. Ele já faz parte de um imaginário do Rio e, certamente, será muito procurado.
A retirada das famílias não têm nenhuma influência na parte aberta aos visitantes. Mas o crescimento do papel científico do Jardim Botânico, sua contribuição para a Mata Atlântica, vão torná-lo mais forte contra toda tentativa de privatização: é um espaço do Brasil e da humanidade.
Matéria publicada no jornal Metro

