Minha análise do que aconteceu ontem em Campo Grande, onde Serra foi atingido na cabeça por um rolo de adesivos lançado por militantes do PT, talvez seja um pouco mais tranquila do que espera um leitor comum.
Sem dúvida a violência é condenável. Sem dúvida, ela pode ser estimulada pelo radicalismo do próprio comportamento presidencial.
Mas em 2008, num contexto eleitoral diferente, sofremos inúmeras tentativas de intimidação por parte do grupo do então deputado Jorge Babu. Quase provocou um acidente ao tentar, sem êxito, fechar nosso carro ao longo de um trajeto de mais de dois quilômetros.
A política na Zona Oeste do Rio tem características especiais. É mais tensa. A própria segurança na Zona Oeste é mais precária pois a região, comparada a outras, é mais dominada pelas milícias.
Para quem subiu e desceu morro e cruzou com metralhadores e fuzis da ADA e do Comando Vermeho, um grupo de mata-mosquitos furiosos não chega a parecer tão ameaçador. Mas a verdade é que o acontecimento transmite uma imagem negativa da campanha e do Brasil. Houve tensão e algumas agressões em 1989, mas era a primeira eleição direta para presidente depois de um longo período ditatorial.
Minha experiência com o PT nas ruas, mesmo apesar das criticas e acusações recíprocas, tem sido a mais cordial possível. Em muitos momentos, nos confraternizamos, apesar de estarmos em fronts diferentes agora. Há muita gente no PT que tem uma visão civilizada de luta política e espero que seja a visão dominante no futuro.
Quem vencer essas eleições presidenciais, terá nas mãos, num primeiro momento, um pais dividido. A idéia de que somos inimigos dentro do mesmo solo é falsa. Só um governo comprometido com a tolerância, com a paz, e interessado em construir alianças não fisiológicas, pode realizar bem a tarefa que o espera.
A tática de acirrar contradições, dividir para governar, detonar reputações através de blogs e jornalistas de aluguel, tudo isso talvez até funcione numa campanha política. Mas como enfoque de governo pode resultar num desastre.
Digo isso pelo Brasil. Pessoalmente, fui criado na luta desde os 16 anos enfrentando a polícia no movimento estudantil. Com a experiência acumulada, acho que o caminho da paz e da tolerância renderia mais frutos, o pais seria inclusive mais agradável e acolhedor.
Por mim, depois do mata-mosquitos, “que vengan los toros“, como dizem os espanhóis: estou pronto. O Brasil, nesse momento de sua história, com a importância que ganhou no mundo, com seus problemas ainda gigantescos, merecia um nível político a altura de seu potencial.
8 Comments
Muito lúcido e verídico o seu relato!
Acredito que deve ser menos ameaçador para você Gabeira que conhece o RJ e tem uma relação mais próxima com o PT . Já o Serra, é visto como um “inimigo ” pela militância petista porque pode vir a ser o presidente no lugar de Dilma.
Gabeira de vc sempre uma opinião consistente. Entretanto, tb tenho algumas preocupações com o momento que estamos vivendo. Claro que em Campanha, onde na maioria das vezes a Política fica afastada, é muito próprio o tudo pela vitória. Ganhar é o Objetivo!
O PT desde o “Fora FHC” vem se configurando como um Projeto excludente de Poder. Agora mesmo já tem vários grupos petistas gritando “Fora Serra”.
O Lula é o principal responsável pela postura excludente. Ele quer extirpar! Ele quer fomentar a luta entre pobres e ricos. E aqui, porque precisa dos pobres para governar, ele deseduca os pobres de propósito.
O Petismo vem cometendo ilícitos no Governo que confirmam um Projeto de Poder pelo Poder.
Grande abraço do Cabo preocupado.
Gabeira,
Você tem uma história de combatividade e independência somadas a uma inteligência acima da média dos políticos de modo geral. Vi que você estava presente no episódio da “agressão” a José Serra. Talvez tenha até visto o que realmente atingiu o candidato. Foi o que dizem ou meramente uma bolinha de papel. No último caso, acredito que sendo quem é, independente de estar apoiando o candidato, você viria a público esclarecer o que ocorreu. Seria o Gabeira tão essencial à política nacional e não mais um político, capaz de tudo para ganhar uma eleição, até mesmo de simular uma agressão.
Olá Gabeira, admiro você e a sua história. Mas neste momento político em que vivemos acredito que maior violência vem vivendo a candidata Dilma, que tem sido atacada pela imprensa descaradamente. Esse tipo de violência, que os jornalistas chamam de “liberdade de imprensa”, para mim, e acredito de verdade, para você também, é muito maior que esse tipo de agressão no furor da disputa das ruas. Gostaria que você se pronunciasse também sobre a insistência do PSDB e da mídia especializada na discussão ideológica sobre a criminalização do aborto e o impedimento do casamento gay. É um uso indevido de uma discussão importante que deveria estar sendo feita democraticamente com todos nós brasileiros. Entendo o seu posicionamento político contrário ao governo do PT, mas não entendo a sua aliança com o PSDB. Não condiz com a sua história de lutas políticas. Um grande abraço, Sandra
Caro: o video sobre a bolinha de papel foi colhido quase 20 minutos antes. Serra foi atingido por um objeto que a imagem revelou ser um rolo de adesivos.
Um abraco
Fernando Gabeira
Essas da foto são cabos eleitorais, trabalhando. Não são militantes.
“Há muita gente no PT que tem uma visão civilizada de luta política e espero que seja a visão dominante no futuro.”
Abs
[…] This post was mentioned on Twitter by monica willson, Monica Ramos Martha, Italo Nogueira, Rodrigo Luiz Sampaio, crisvilaalba and others. crisvilaalba said: Gabeira 43 http://t.co/bh37tZR vía @AddThis […]